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O indiano e a sua malandragem

Soluções digitais para instituições e marketing político.

O indiano e a sua malandragem

Muito brasileiro tem mania de achar que é malandro. Se for do Rio então, pior ainda. Mas a realidade não é bem essa. A gente é esperto para se livrar do perigo. Uma coisa mais agressiva, física, por conta da nossa violência cotidiana. A nossa “marra” é um dos reflexos mais claros disso. Basta observar. Mas o que esperar de um cidadão que vive num país com mais de um bilhão de habitantes? 

Já no primeiro dia, um indivíduo com seus quarenta e poucos anos me abordou na rua. Na Índia tem aquele lance de alguém se passar por seu “guia” para ganhar uma comissão na sua compra. Pacífico e simpático, a gente conversou tanto que me cansou. Falamos de família, como era a Índia, explicou o mapa da cidade, como lidar com os indianos, sobre a segurança… e me levou em 4 lojas. Eu não comprei em nenhuma. Mas ele, em nenhum momento, foi grosso ou agressivo comigo. Achei até que era pegadinha. Compreendi essa diferença para qual eu não estava preparado. O indiano não vem na “mão grande” como rola aqui. Em palavras formais, eles não te roubam. Furto eu não sei. Mas roubar, eu não vi.

Mesmo não comprando nada, ele me deu uma dica valiosíssima: Você parece um nepalês. É quase um de nós. Está com roupa de turista. Se vestindo como nós, ninguém irá te abordar.

Em Varanasi, sendo fotografado por um vendedor que queria comprar meu celular.

E foi o que fiz. Nos dias seguintes, mais precisamente do terceiro em diante, eu me vesti como um deles. Ao contrário que se pensa, essa “moda Índia”, com um monte de mandala, roupinhas “haribô”, tem muito blá blá blá. É engraçado ver a turistada nesse clima. Os locais riem. As mulheres sim, essas se vestem bem diferente. Mas no geral, os homens usam camisa social e calça comprida. Ponto. Cheguei a ver alguns adolescentes de t-shirt também. O que destoa mesmo são os tênis. Não é incomum ver uma galera descalça também.

Disfarce pronto, parto para o metrô. Chego na estação Karol Bagh e logo recebo a primeira pergunta em hindi. Não entendi. O senhor tornou a repetir a pergunta. Aí, eu lancei: English? Nada! Bem, fiquei feliz. Descobri que, tirando a parte de falar hindi, eu já convencia visualmente. Ok, sou mais alto e sem cabelo, mas isso nem importou tanto quanto a “leitura corporal”. Percebi que nosso andar é mais agressivo. Copiei alguns trejeitos do andar. No alvo! É bem possível que o corpo fale muito mais do que as vestes.

“This is Índia!”

Só ao me embrenhar entre eles, entendi na prática de onde vinha aquela “malandragem”. Veja, numa sociedade com 1 bilhão e 200 milhões de habitantes, quem é você? A impressão que dá é que o cidadão não é ninguém. É tudo igual, mas desigual. Aí começa a vigorar a lei universal do ser humano: “Farinha pouca, meu pirão primeiro”.  A “furação” de fila é constante, irritante. Prática normal. E o espaço entre as pessoas na fila? É, literalmente, um encoxando o outro. Andava de lado para não tomar aquela encoxada desagradável. Mas pra eles, tudo normal. Se você deixa um espaço entre pessoas, como rola aqui, eles entram. A noção de espaço determina por completo a “anti-malandragem” na fila.

A técnica do “João Sem Braço”, também conhecida como “se fazer de maluco”, é a mais utilizada. A partir daí, você entende que aquele estilo de vida “mais malandro” não é uma maldade, só uma alternativa de sobrevivência. É claro que essa atitude não é generalizada. Mas a tolerância e conivência parecem que sim. O grupo sai prejudicado? Sai. Mas, com tanta gente, até que ponto é o coletivo que importa? Perguntas sem resposta para uma população que não pára de crescer, rumando para ser a maior do mundo.

Mesmo assim, com esse desrespeito pelo espaço alheio, um dia na fila do metrô, um senhor se manifestou. Ficou irritado e deu uma descompostura num cidadão que tentava furar a fila. Depois de resolver a situação, ele disse: This is Índia. Uma esperança de que essa malandragem está com os séculos contados para acabar.

Aproveite para ver os vídeos também.

Muito brasileiro tem mania de achar que é malandro. Se for do Rio então, pior ainda. Mas a realidade não é bem essa. A gente é esperto para se livrar do perigo. Uma coisa mais agressiva, física, por conta da nossa violência cotidiana. A nossa “marra” é um dos reflexos mais claros disso. Basta observar. Mas o que esperar de um cidadão que vive num país com mais de um bilhão de habitantes? 

Já no primeiro dia, um indivíduo com seus quarenta e poucos anos me abordou na rua. Na Índia tem aquele lance de alguém se passar por seu “guia” para ganhar uma comissão na sua compra. Pacífico e simpático, a gente conversou tanto que me cansou. Falamos de família, como era a Índia, explicou o mapa da cidade, como lidar com os indianos, sobre a segurança… e me levou em 4 lojas. Eu não comprei em nenhuma. Mas ele, em nenhum momento, foi grosso ou agressivo comigo. Achei até que era pegadinha. Compreendi essa diferença para qual eu não estava preparado. O indiano não vem na “mão grande” como rola aqui. Em palavras formais, eles não te roubam. Furto eu não sei. Mas roubar, eu não vi.

Mesmo não comprando nada, ele me deu uma dica valiosíssima: Você parece um nepalês. É quase um de nós. Está com roupa de turista. Se vestindo como nós, ninguém irá te abordar.

Em Varanasi, sendo fotografado por um vendedor que queria comprar meu celular.

E foi o que fiz. Nos dias seguintes, mais precisamente do terceiro em diante, eu me vesti como um deles. Ao contrário que se pensa, essa “moda Índia”, com um monte de mandala, roupinhas “haribô”, tem muito blá blá blá. É engraçado ver a turistada nesse clima. Os locais riem. As mulheres sim, essas se vestem bem diferente. Mas no geral, os homens usam camisa social e calça comprida. Ponto. Cheguei a ver alguns adolescentes de t-shirt também. O que destoa mesmo são os tênis. Não é incomum ver uma galera descalça também.

Disfarce pronto, parto para o metrô. Chego na estação Karol Bagh e logo recebo a primeira pergunta em hindi. Não entendi. O senhor tornou a repetir a pergunta. Aí, eu lancei: English? Nada! Bem, fiquei feliz. Descobri que, tirando a parte de falar hindi, eu já convencia visualmente. Ok, sou mais alto e sem cabelo, mas isso nem importou tanto quanto a “leitura corporal”. Percebi que nosso andar é mais agressivo. Copiei alguns trejeitos do andar. No alvo! É bem possível que o corpo fale muito mais do que as vestes.

“This is Índia!”

Só ao me embrenhar entre eles, entendi na prática de onde vinha aquela “malandragem”. Veja, numa sociedade com 1 bilhão e 200 milhões de habitantes, quem é você? A impressão que dá é que o cidadão não é ninguém. É tudo igual, mas desigual. Aí começa a vigorar a lei universal do ser humano: “Farinha pouca, meu pirão primeiro”.  A “furação” de fila é constante, irritante. Prática normal. E o espaço entre as pessoas na fila? É, literalmente, um encoxando o outro. Andava de lado para não tomar aquela encoxada desagradável. Mas pra eles, tudo normal. Se você deixa um espaço entre pessoas, como rola aqui, eles entram. A noção de espaço determina por completo a “anti-malandragem” na fila.

A técnica do “João Sem Braço”, também conhecida como “se fazer de maluco”, é a mais utilizada. A partir daí, você entende que aquele estilo de vida “mais malandro” não é uma maldade, só uma alternativa de sobrevivência. É claro que essa atitude não é generalizada. Mas a tolerância e conivência parecem que sim. O grupo sai prejudicado? Sai. Mas, com tanta gente, até que ponto é o coletivo que importa? Perguntas sem resposta para uma população que não pára de crescer, rumando para ser a maior do mundo.

Mesmo assim, com esse desrespeito pelo espaço alheio, um dia na fila do metrô, um senhor se manifestou. Ficou irritado e deu uma descompostura num cidadão que tentava furar a fila. Depois de resolver a situação, ele disse: This is Índia. Uma esperança de que essa malandragem está com os séculos contados para acabar.