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A terceira opção: De Brizola a Eduardo Campos e Marina Silva

Soluções digitais para instituições e marketing político.

A terceira opção: De Brizola a Eduardo Campos e Marina Silva

Avião Presidencial Brasileiro

Uma olhadinha histórica para tentar entender a viabilidade de um terceiro lugar nas eleições

Estava com este texto guardado no bolso há algum tempo. Na verdade, tinha desistido de ficar lendo ou falando sobre política. Estafado, cansado dessa conversinha de sempre, rolava um desânimo pessoal (desconfio que coletivo) com essas eleições. Não bastasse o “nunca antes na história…” de junho de 2013, eis que cai esse avião com um presidenciável relevante, algo sem precedentes na história política brasileira.

A palavra tercius, de origem latina, tem seu uso na política quando nos referimos ao candidato que representa a “terceira opção” em eleições polarizadas. O tercius não necessariamente é o terceiro lugar. Como você verá a seguir, algumas vezes, esta colocação tem votação irrelevante. Em suma, quando a concorrência eleitoral parece se fechar em 2 candidatos, esse vetor se apresenta e desestabiliza a disputa.

Independente do trágico acidente de Eduardo Campos, qualquer especulação sobre o crescimento do candidato na campanha de 2014 é muito discutível quando se olha o passado. Infelizmente, com o falecimento tudo se torna uma promessa, uma esperança. Sendo muito realista, se Campos estivesse vivo, as eleições continuariam focadas em Dilma (PT) e Aécio (PSDB). Inclusive, quando imaginei escrever sobre o terceiro lugar nas eleições presidenciais, o principal propósito era fazer um comparativo entre as épocas.

O ponto fora da curva

A eleição de 1989 é conhecida por ter muitos favoritos. Entretanto, os números mostram que o páreo não foi tão igualitário assim. No 1º turno, Collor teve 28%, Lula 16% e Brizola em torno dos 15,5%. O quarto lugar é de Mário Covas, com 10%, uma distância que, naquela eleição, era grande, dada a disputa com tantos candidatos de renome. Por muito pouco, Leonel Brizola não passa Lula. Porém, o que chama a atenção é que ele vinha de um mandato como governador do Rio de Janeiro. Aliás, como já escrevi anteriomente, Brizola já disputava o pleito no Rio desde os anos 60, quando saiu do Rio Grande do Sul para disputar as eleições como deputado federal, já na ex-capital. Não foi um tercius em 89, mas um terceiro lugar que fez diferença. Depois disso, tornou-se irrelevante nacionalmente.

Leonel Brizola - Presidente 89
Cartaz da campanha de Brizola para presidente em na campanha de 1989.

1994 e 1998: turnos únicos

O terceiro colocado de 94 foi a surpresa Enéas Carneiro. Médico cardiologista, ele é dono de um dos melhores bordões da política brasileira: “Meu Nome é Enéas!” Com poucos segundos no horário eleitoral, conseguiu mais de 7% da votação nacional. Em 1998, Ciro Gomes, que vinha de uma carreira densa como prefeito de Fortaleza, governador do Ceará e ministro da fazenda no governo Itamar (1994), teve pouco mais de 10% dos votos. Em 2002, se candidatou novamente, mas só conseguiu um quarto lugar. Assim como Brizola, não conseguiu mais desequilibrar em eleições nacionais.

Enéas Carneiro e Ciro Gomes
Terceiros consecutivos: Enéas Carneiro (1994) e Ciro Gomes (1998).

Cabe lembrar que, tanto em 1994 quanto em 1998, Fernando Henrique foi eleito em 1º turno, sempre tendo Lula como vice. Coisa que mudaria radicalmente nos anos 2000.

Quando os pólos se invertem

O ano de 2002 chegou trazendo novidades. A promessa era que aquela eleição seria protagonizada por Roseana Sarney, filha do ex-presidente, governadora por 2 mandatos no Maranhão (1995–2002) e forte favorita ao cargo máximo. Sem falar que tinha todo aquele apelo da mulher na presidência da república.

Mas… a casa caiu quando a Polícia Federal resolveu fazer uma tal de “Operação Lunus”, dando uma geral na empresa do marido de Roseana. Nessa brecha, José Serra se consolidou como candidato do governo contra Luís Inácio que, mais uma vez, concorria ao pleito.

Anthony Garotinho em 2002
Garotinho, o tercius que guase chega ao segundo turno.

Eis que um nome relevante emerge como tercius na política nacional. Na verdade, um apelido: Garotinho. Anthony Garotinho, dono de uma das maiores aprovações como governador do Rio no final de seu mandato, em 2002, desequilibrou o cenário nacional. Saído do PDT, agora no PSB, conseguiu quase 18% dos votos, ficando atrás de José Serra por 5 pontos percentuais. Serra foi derrotado por Lula no segundo turno. Já Anthony, o tercius da vez, adquiriu a síndrome do terceiro lugar, caindo na inexpressão para o Brasil.

Em 2006, a polarização reinou. Lula e Alckmim foram para a 2º turno com votações maiores que 40% para ambos. Somados, detinham mais de 90% dos votos na primeira etapa. Como terceira colocada, Heloísa Helena não fez cócegas com seus 6,8% de votos. A ex-senadora de Alagoas caiu no esquecimento, se elegendo vereadora de Maceió nas eleições seguintes.

2010: o ano das mulheres

Ex-senadora do Acre, Marina Silva tinha uma história de militância a favor das questões ambientais, sem falar em seu contato direto com o lendário Chico Mendes. Essas credenciais a ajudaram a se tornar ministra do Meio Ambiente, cargo no qual ficou durante o primeiro e metade do segundo mandato de Luís Inácio.

Dilma Rousseff e Marina Silva
Dilma e Marina, junto a José Serra, foram candidatas ao cargo máximo do executivo no Brasil.

Resumidamente, ela se desentendeu, saiu do governo, trocou o PT pelo PV e lançou-se à presidência em 2010. Com 19,3% dos votos, foi decisiva naquelas eleições. Sendo objetivo, se as eleições se polarizassem fortemente, Dilma (PT), que naquela ocasião teve quase 47% dos votos, provavelmente conseguiria fazer seus mais de 3% para levar no 1º turno. Marina foi um tercius, uma terceira via que desestabilizou o sistema, mesmo não fazendo frente às chapas principais.

Campos, Marina e o caminho torto

Como a história tenta mostrar, o terceiro lugar nas eleições presidenciais é uma colocação maldita. Tercius ou não, os dados da nova República confirmam isso. Entretanto, vejamos: se um candidato que fica em segundo lugar durante 3 eleições seguidas pode vencer a quarta disputa, o impede quem fica em terceiro de mudar os rumos históricos?

Eduardo Campos e Marina Silva
Marina Silva e Eduardo Campos no início do que seria uma chapa de terceira via.

Foi por intermédio de Pedro Simon, senador do Rio Grande do Sul, que Marina Silva e Eduardo Campos se aproximaram. Na realidade, ela não disputaria absolutamente nada em 2014, pois seu partido, “Rede Sustentabilidade”, não conseguiu validar as quase 500.000 assinaturas necessárias para ser registrado. Já ele, caminhava para ser mais um no pleito. Simon reuniu ambos, que entenderam ter de formar a 3ª via da vez.

Campos veio como titular da chapa, Marina vice e o restante da história você já sabe. Até o acontecimento do acidente, a chapa do PSB não tinha “emplacado”. Sendo lúcido, levando em consideração o interesse das pessoas por essas eleições de 2014, principalmente depois das desilusões de 2013, dificilmente alguém se mobilizaria. Nem mesmo no nordeste, origem de Eduardo Campos, suas intenções de voto tinham expressão.

Para vender um produto é preciso que ele seja conhecido

Dizem que Antônio Carlos Magalhães falava que “ser prefeito é uma questão de competência, governador, de oportunidade. Já a presidência, é sorte.” Mas a sorte não trabalha sozinha. Olhando o passado, é possível enxergar um fator que pode ter sido determinante nas disputas das eleições que tiveram um terceiro lugar relevante, ameaçando o vice-colocado de verdade.

O Rio de Janeiro é um saco de gatos. Muito distante da organização e eficiência paulista, teve a “sorte” de ter sido escolhido por Dom João VI como moradia em 1808. Mesmo depois de 1960, com a ida da capital para Brasília, vive no imaginário brasileiro, nos cartões postais, nas novelas, nos filmes, na CBF e na Globo. Isso torna os produtos, e consequentemente os políticos, daqui fortes candidatos aos pleitos nacionais.

Curiosamente, ou não, os únicos terceiros lugares que fizeram alguma diferença eleitoral, ameaçando fortemente os segundos colocados, são oriundos do Rio. Brizola, em 89, e seu filho político Garotinho, em 2002, tinham seus nomes com um certo grau de conhecimento por conta do estado de origem. César Maia, ainda prefeito, foi cogitado para 2006 e, muito provavelmente, o mesmo poderá acontecer com Eduardo Paes, em 2018. Abrindo um adendo, Paes será para sempre conhecido como o prefeito da Copa e das Olimpíadas, sendo o segundo evento muito mais protagonista por ser ter a cidade como sede (a Copa é para o país). Uma ótima chance para tornar-se um “produto político” de expressão nacional.

Há algumas correntes que exploram o fato de Garotinho e Marina serem evangélicos, sendo esse o motivo da ascendência de ambos na corrida eleitoral como 3ª via. Mas, quando comparados a um Crivella ou Pastor Everaldo, que exploram isso de verdade, duvido um pouco que seja esse o caso.

Eduardo Campos foi corajoso ao tentar abrir essa barreira. Mal comparando, Ciro Gomes, também ex-governador de um estado nordestino e ministro da fazenda já no plano real, não conseguiu nem incomodar o líder da época. O nordeste brasileiro ainda recebe influências dos grandes centros. Então, é sempre um desafio ir na “mão inversa” e tornar seus produtos regionais competitivos nacionalmente. Isso inclui, claro, os políticos. Ah, e se você está pensando em Fernando Collor… bem, eu só estou falando dos terceiros, lembra? Este foi um produto certo, na hora certa. Mas, como vovó dizia, ainda terei de “comer muito feijão com arroz” pra entender isso.

Voltando a Campos e sua tentativa de marcar o nome para voltar em 2018, a própria experiência de Ciro já mostrou que o caminho é tortuoso e gera um desgaste na “marca”. Como vimos, se relançar após ser terceiro lugar é um processo difícil. Mas, como amanhã sempre é outro dia, ninguém nunca imaginaria que ele poderia ser o personagem principal no relançamento de outra marca, aquela chamada Marina Silva.

Os últimos presidentes reunidos
Os últimos presidentes reunidos. Na ordem: Dilma, Lula, Collor, Sarney e Fernando Henrique.

Faltando menos de 50 dias para que a votação seja aberta, parece que Marina quer tentar superar o feito histórico de Lula, que se elegeu após 3 “vice-campeonatos”. Na verdade, se ela “só” chegar em 2º lugar, já entra na lista daqueles produtos que ninguém imaginava que fossem dar certo. E pior, se a “terceira via” se tornar a primeira opção, ficará evidente que, como em toda indústria, a política precisa entender que o marketing sozinho não faz milagre. Investir em P&D é necessário, afinal, sem pesquisa e desenvolvimento nenhuma empresa sobrevive ao produto do momento.

Aproveite para ver os vídeos também.

Avião Presidencial Brasileiro

Uma olhadinha histórica para tentar entender a viabilidade de um terceiro lugar nas eleições

Estava com este texto guardado no bolso há algum tempo. Na verdade, tinha desistido de ficar lendo ou falando sobre política. Estafado, cansado dessa conversinha de sempre, rolava um desânimo pessoal (desconfio que coletivo) com essas eleições. Não bastasse o “nunca antes na história…” de junho de 2013, eis que cai esse avião com um presidenciável relevante, algo sem precedentes na história política brasileira.

A palavra tercius, de origem latina, tem seu uso na política quando nos referimos ao candidato que representa a “terceira opção” em eleições polarizadas. O tercius não necessariamente é o terceiro lugar. Como você verá a seguir, algumas vezes, esta colocação tem votação irrelevante. Em suma, quando a concorrência eleitoral parece se fechar em 2 candidatos, esse vetor se apresenta e desestabiliza a disputa.

Independente do trágico acidente de Eduardo Campos, qualquer especulação sobre o crescimento do candidato na campanha de 2014 é muito discutível quando se olha o passado. Infelizmente, com o falecimento tudo se torna uma promessa, uma esperança. Sendo muito realista, se Campos estivesse vivo, as eleições continuariam focadas em Dilma (PT) e Aécio (PSDB). Inclusive, quando imaginei escrever sobre o terceiro lugar nas eleições presidenciais, o principal propósito era fazer um comparativo entre as épocas.

O ponto fora da curva

A eleição de 1989 é conhecida por ter muitos favoritos. Entretanto, os números mostram que o páreo não foi tão igualitário assim. No 1º turno, Collor teve 28%, Lula 16% e Brizola em torno dos 15,5%. O quarto lugar é de Mário Covas, com 10%, uma distância que, naquela eleição, era grande, dada a disputa com tantos candidatos de renome. Por muito pouco, Leonel Brizola não passa Lula. Porém, o que chama a atenção é que ele vinha de um mandato como governador do Rio de Janeiro. Aliás, como já escrevi anteriomente, Brizola já disputava o pleito no Rio desde os anos 60, quando saiu do Rio Grande do Sul para disputar as eleições como deputado federal, já na ex-capital. Não foi um tercius em 89, mas um terceiro lugar que fez diferença. Depois disso, tornou-se irrelevante nacionalmente.

Leonel Brizola - Presidente 89
Cartaz da campanha de Brizola para presidente em na campanha de 1989.

1994 e 1998: turnos únicos

O terceiro colocado de 94 foi a surpresa Enéas Carneiro. Médico cardiologista, ele é dono de um dos melhores bordões da política brasileira: “Meu Nome é Enéas!” Com poucos segundos no horário eleitoral, conseguiu mais de 7% da votação nacional. Em 1998, Ciro Gomes, que vinha de uma carreira densa como prefeito de Fortaleza, governador do Ceará e ministro da fazenda no governo Itamar (1994), teve pouco mais de 10% dos votos. Em 2002, se candidatou novamente, mas só conseguiu um quarto lugar. Assim como Brizola, não conseguiu mais desequilibrar em eleições nacionais.

Enéas Carneiro e Ciro Gomes
Terceiros consecutivos: Enéas Carneiro (1994) e Ciro Gomes (1998).

Cabe lembrar que, tanto em 1994 quanto em 1998, Fernando Henrique foi eleito em 1º turno, sempre tendo Lula como vice. Coisa que mudaria radicalmente nos anos 2000.

Quando os pólos se invertem

O ano de 2002 chegou trazendo novidades. A promessa era que aquela eleição seria protagonizada por Roseana Sarney, filha do ex-presidente, governadora por 2 mandatos no Maranhão (1995–2002) e forte favorita ao cargo máximo. Sem falar que tinha todo aquele apelo da mulher na presidência da república.

Mas… a casa caiu quando a Polícia Federal resolveu fazer uma tal de “Operação Lunus”, dando uma geral na empresa do marido de Roseana. Nessa brecha, José Serra se consolidou como candidato do governo contra Luís Inácio que, mais uma vez, concorria ao pleito.

Anthony Garotinho em 2002
Garotinho, o tercius que guase chega ao segundo turno.

Eis que um nome relevante emerge como tercius na política nacional. Na verdade, um apelido: Garotinho. Anthony Garotinho, dono de uma das maiores aprovações como governador do Rio no final de seu mandato, em 2002, desequilibrou o cenário nacional. Saído do PDT, agora no PSB, conseguiu quase 18% dos votos, ficando atrás de José Serra por 5 pontos percentuais. Serra foi derrotado por Lula no segundo turno. Já Anthony, o tercius da vez, adquiriu a síndrome do terceiro lugar, caindo na inexpressão para o Brasil.

Em 2006, a polarização reinou. Lula e Alckmim foram para a 2º turno com votações maiores que 40% para ambos. Somados, detinham mais de 90% dos votos na primeira etapa. Como terceira colocada, Heloísa Helena não fez cócegas com seus 6,8% de votos. A ex-senadora de Alagoas caiu no esquecimento, se elegendo vereadora de Maceió nas eleições seguintes.

2010: o ano das mulheres

Ex-senadora do Acre, Marina Silva tinha uma história de militância a favor das questões ambientais, sem falar em seu contato direto com o lendário Chico Mendes. Essas credenciais a ajudaram a se tornar ministra do Meio Ambiente, cargo no qual ficou durante o primeiro e metade do segundo mandato de Luís Inácio.

Dilma Rousseff e Marina Silva
Dilma e Marina, junto a José Serra, foram candidatas ao cargo máximo do executivo no Brasil.

Resumidamente, ela se desentendeu, saiu do governo, trocou o PT pelo PV e lançou-se à presidência em 2010. Com 19,3% dos votos, foi decisiva naquelas eleições. Sendo objetivo, se as eleições se polarizassem fortemente, Dilma (PT), que naquela ocasião teve quase 47% dos votos, provavelmente conseguiria fazer seus mais de 3% para levar no 1º turno. Marina foi um tercius, uma terceira via que desestabilizou o sistema, mesmo não fazendo frente às chapas principais.

Campos, Marina e o caminho torto

Como a história tenta mostrar, o terceiro lugar nas eleições presidenciais é uma colocação maldita. Tercius ou não, os dados da nova República confirmam isso. Entretanto, vejamos: se um candidato que fica em segundo lugar durante 3 eleições seguidas pode vencer a quarta disputa, o impede quem fica em terceiro de mudar os rumos históricos?

Eduardo Campos e Marina Silva
Marina Silva e Eduardo Campos no início do que seria uma chapa de terceira via.

Foi por intermédio de Pedro Simon, senador do Rio Grande do Sul, que Marina Silva e Eduardo Campos se aproximaram. Na realidade, ela não disputaria absolutamente nada em 2014, pois seu partido, “Rede Sustentabilidade”, não conseguiu validar as quase 500.000 assinaturas necessárias para ser registrado. Já ele, caminhava para ser mais um no pleito. Simon reuniu ambos, que entenderam ter de formar a 3ª via da vez.

Campos veio como titular da chapa, Marina vice e o restante da história você já sabe. Até o acontecimento do acidente, a chapa do PSB não tinha “emplacado”. Sendo lúcido, levando em consideração o interesse das pessoas por essas eleições de 2014, principalmente depois das desilusões de 2013, dificilmente alguém se mobilizaria. Nem mesmo no nordeste, origem de Eduardo Campos, suas intenções de voto tinham expressão.

Para vender um produto é preciso que ele seja conhecido

Dizem que Antônio Carlos Magalhães falava que “ser prefeito é uma questão de competência, governador, de oportunidade. Já a presidência, é sorte.” Mas a sorte não trabalha sozinha. Olhando o passado, é possível enxergar um fator que pode ter sido determinante nas disputas das eleições que tiveram um terceiro lugar relevante, ameaçando o vice-colocado de verdade.

O Rio de Janeiro é um saco de gatos. Muito distante da organização e eficiência paulista, teve a “sorte” de ter sido escolhido por Dom João VI como moradia em 1808. Mesmo depois de 1960, com a ida da capital para Brasília, vive no imaginário brasileiro, nos cartões postais, nas novelas, nos filmes, na CBF e na Globo. Isso torna os produtos, e consequentemente os políticos, daqui fortes candidatos aos pleitos nacionais.

Curiosamente, ou não, os únicos terceiros lugares que fizeram alguma diferença eleitoral, ameaçando fortemente os segundos colocados, são oriundos do Rio. Brizola, em 89, e seu filho político Garotinho, em 2002, tinham seus nomes com um certo grau de conhecimento por conta do estado de origem. César Maia, ainda prefeito, foi cogitado para 2006 e, muito provavelmente, o mesmo poderá acontecer com Eduardo Paes, em 2018. Abrindo um adendo, Paes será para sempre conhecido como o prefeito da Copa e das Olimpíadas, sendo o segundo evento muito mais protagonista por ser ter a cidade como sede (a Copa é para o país). Uma ótima chance para tornar-se um “produto político” de expressão nacional.

Há algumas correntes que exploram o fato de Garotinho e Marina serem evangélicos, sendo esse o motivo da ascendência de ambos na corrida eleitoral como 3ª via. Mas, quando comparados a um Crivella ou Pastor Everaldo, que exploram isso de verdade, duvido um pouco que seja esse o caso.

Eduardo Campos foi corajoso ao tentar abrir essa barreira. Mal comparando, Ciro Gomes, também ex-governador de um estado nordestino e ministro da fazenda já no plano real, não conseguiu nem incomodar o líder da época. O nordeste brasileiro ainda recebe influências dos grandes centros. Então, é sempre um desafio ir na “mão inversa” e tornar seus produtos regionais competitivos nacionalmente. Isso inclui, claro, os políticos. Ah, e se você está pensando em Fernando Collor… bem, eu só estou falando dos terceiros, lembra? Este foi um produto certo, na hora certa. Mas, como vovó dizia, ainda terei de “comer muito feijão com arroz” pra entender isso.

Voltando a Campos e sua tentativa de marcar o nome para voltar em 2018, a própria experiência de Ciro já mostrou que o caminho é tortuoso e gera um desgaste na “marca”. Como vimos, se relançar após ser terceiro lugar é um processo difícil. Mas, como amanhã sempre é outro dia, ninguém nunca imaginaria que ele poderia ser o personagem principal no relançamento de outra marca, aquela chamada Marina Silva.

Os últimos presidentes reunidos
Os últimos presidentes reunidos. Na ordem: Dilma, Lula, Collor, Sarney e Fernando Henrique.

Faltando menos de 50 dias para que a votação seja aberta, parece que Marina quer tentar superar o feito histórico de Lula, que se elegeu após 3 “vice-campeonatos”. Na verdade, se ela “só” chegar em 2º lugar, já entra na lista daqueles produtos que ninguém imaginava que fossem dar certo. E pior, se a “terceira via” se tornar a primeira opção, ficará evidente que, como em toda indústria, a política precisa entender que o marketing sozinho não faz milagre. Investir em P&D é necessário, afinal, sem pesquisa e desenvolvimento nenhuma empresa sobrevive ao produto do momento.